Pesquisa estuda primata ameaçado no Parque Augusto Ruschi
14/07/2016
 Parque Augusto Ruschi
O Parque Natural Municipal Augusto Ruschi (PNMAR), de São José dos Campos, tem sido local de estudos científicos sobre fauna Foto: Antonio Basílio/PMSJC

Secretaria de Governança

O Parque Natural Municipal Augusto Ruschi (PNMAR), de São José dos Campos, tem sido local de estudos científicos sobre fauna, realizados por pesquisadores e estudantes da região. Um deles é sobre o primata Callithrix aurita, conhecido popularmente como sagui-da-serra-escuro ou sagui-do-vale-do-paraíba.

A espécie, nativa da Mata Atlântica na região Sudeste, está inserida no “Plano de Ação Nacional para a Conservação de Mamíferos da Mata Atlântica Central”, sendo considerada em perigo de extinção, conforme a lista vermelha do ICMBio, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão do Governo Federal, e da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).

O monitoramento do sagui ocorre como parte do processo de licenciamento ambiental para uma nova linha de transmissão de energia da COPEL, exigência feita pelo ICMBio, a partir do escritório regional da APA Mananciais Rio Paraíba do Sul, e tem o objetivo de verificar se a implantação da linha pode causar impactos à espécie.

A pesquisa vem sendo realizada há oito meses pelo biólogo Wagner Lacerda, consultor contratado pela COPEL, e especialista em primatologia, Mestre em conservação e manejo de recursos naturais e pesquisador associado da ONG Muriqui Instituto de Biodiversidade.

Mensalmente, o biólogo realiza expedições na área do Parque para identificar os grupos e indivíduos do Callithrix aurita e as áreas utilizadas por eles. Com um equipamento que simula a vocalização dos saguis, o biólogo tenta atrair os animais nativos e já conseguiu identificar três grupos familiares, totalizando 13 indivíduos.

Segundo Wagner Lacerda, este é um parâmetro positivo “significa que esta área mantém as características necessárias para que a espécie ainda permaneça aqui." O biólogo explicou que, segundo estudos, estima-se que, em 18 anos, o equivalente a três gerações, houve uma redução de 50% da população destes saguis.

As principais ameaças à espécie nativa são a perda do habitat natural pelo desmatamento e a competição por recursos, como espaço, abrigo e alimento, com as espécies exóticas introduzidas indevidamente. O cruzamento entre saguis da região e exóticos, que vêm no nordeste e da região central do Brasil, oriundos do tráfico de animais silvestres, é outro fator de risco, descaracterizando a espécie e ocasionando perda genética.

Muitas vezes a interferência humana é desastrosa. “A pessoa vê que tem macacos naquela região e resolve soltar uma espécie que vivia em cativeiro por achar que terão outros animais para conviver. Isso é muito sério e precisamos orientar as pessoas a respeito disso”.

Por meio da ONG Instituto Muriqui, o biólogo desenvolve estudos em outras regiões de ocorrência do Callithrix aurita no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, visando estabelecer mapas de áreas prioritárias para conservação desta espécie, assim como de outros primatas.

“São poucos os estudos sobre o sagui-da-serra-escuro. Assim, essa é uma oportunidade boa para obter dados, gerar conhecimento e trabalhar para sua conservação. As poucas populações puras encontradas têm que ser cuidadas”, destaca o pesquisador.

A bióloga e chefe do escritório regional do ICMBio, Letícia Brandão, ressalta a importância dos estudos de campo. “A pesquisa que está sendo feita com o Callithrix aurita é fundamental para a tomada de decisão sobre as ações que contribuem para a conservação da espécie no âmbito regional.”

De acordo com a educadora da Semea Elisa Farinha, as informações geradas nesses estudos, além da relevância científica, são muito importantes para o trabalho de educação ambiental realizado com visitantes. “É importante que as pessoas saibam da ocorrência desta e de outras espécies, os riscos da introdução de animais exóticos, comecem a entender e valorizar a área do Parque”, completou.

Parque Natural

O Parque Natural Municipal Augusto Ruschi é a primeira Unidade de Conservação de Proteção Integral de São José dos Campos, criada em 17 de setembro de 2010, na área do antigo Horto Florestal.

Localizado no bairro Santa Cruz da Boa Vista, região norte, o parque é um dos principais fragmentos florestais do município, com 2 milhões de metros quadrados de Mata Atlântica preservada.

Sua vocação como unidade de proteção integral é voltada unicamente para a conservação da biodiversidade, pesquisas científicas, educação ambiental e turismo ecológico conforme normas do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

Atualmente, o Parque atende pequenos grupos para visitas monitoradas e com finalidade educativa. Os interessados podem realizar o agendamento pelo telefone 3909-4512 na Secretaria de Meio Ambiente.