Terceira edição da FLIM reúne público de 28 mil pessoas no Vicentina Aranha
19/09/2016
FLIM no Parque Vicentina Aranha
A terceira edição da FLIM (Festa Literomusical do Parque Vicentina Aranha), recebeu cerca de 28 mil visitantes de 16 a 18 de setembro Foto: Antonio Basílio/PMSJC

Fundação Cultural Cassiano Ricardo

A terceira edição da FLIM (Festa Literomusical do Parque Vicentina Aranha), organizada pela AJFAC (Associação Joseense Para o Fomento da Arte e da Cultura), recebeu cerca de 28 mil visitantes de 16 a 18 de setembro O Em três dias do evento, o público usufruiu gratuitamente de uma vasta programação cultural. 

Uma palavra resume bem a edição deste ano: sintonia. Na sexta-feira, João Bosco mostrou como se chega aos 70 anos de idade com uma das maiores bagagens composicionais da música brasileira. Simpático, feliz e sofisticado em sua arte, encheu o Parque de vozes timidamente cantoras.

Em uma das alamedas do Parque, o poeta de Jacareí Rafael Sarzi, que se dedicou a escrever cartas de amor e de ex-amor para o público em uma intervenção poética, passou horas ouvindo pessoas e traduzindo seus sentimentos em cartas. E no mundo do “Faz de Conta”, um espaço dedicado especialmente aos pequenos leitores, eles caçavam poemas, em vez de Pokemons.

Na primeira Mesa Literária da FLIM, o escritor Prof. Dr. José Carlos Martins abordou a transformação do espaço “Ponto de Encontro” no sagrado templo para se discutir o que estava acontecendo ali fora, e fora dali e mais adiante ainda. “Somos hoje o fragmento de um indivíduo, um pedaço de uma pessoa. A cidade é o lugar do desencontro”, disse.

“A gente quer essa apropriação do Parque”, afirmou Angela Tornelli Ribeiro, diretora geral da AJFAC, feliz com o resultado do evento.

A médica Paula Carnevale, na primeira Mesa Literária da manhã de sábado, também estava sintonizada. Usando a saúde como base, o sanatório como cenário e arte como instrumento, declarou: “A cidade se inscreve objetiva e subjetivamente nos nossos corpos”, ou seja, a arte produzida reflete todos seus tempos e é influenciada por todo contexto onde se insere. No caso, nossa cidade, assim como todas elas.

Na mesa seguinte, a escritora Carol Rodrigues também se apoiou no tempo para se encontrar com uma cidade. Mesmo que ela nunca mais tenha sido visitada novamente, tem todos os cheiros guardados na memória. “Ir a um bar e o garçom não saber meu nome me faz mal. A gente sai do interior, mas ele não sai da gente”, disse o escritor e poeta cuiabano Joca Reiners Terron.

Mais para o interior ainda, só que de si mesmo, era a proposta que acontecia ao mesmo tempo, em outro espaço do Parque, do Salve as Kamadas Líricas. O trio disponibilizou fones de ouvido para um grupo que se alternava ouvindo shows particulares, sem a interferência sonora da cidade, mas com os olhos nela. Experiência única e sintonizada.

É preciso sair de um lugar para entendê-lo. Essa afirmação que anda junta à proposta do trio também foi o tema central da terceira rodada de conversas no “Ponto de Encontro”. Lima Barreto levando o subúrbio carioca para o centro, Borges levando a periferia para a aristocracia argentina e a ironia russa de lidar com o mundo. O Parque Vicentina Aranha já não tinha mais grades nessa hora. E o poeta Chacal propôs inclusive uma nova expansão da poesia.

A última mesa literária do sábado, a quarta da FLIM, os escritores Paulo Lins, Ricardo Aleixo, Lourenço Mutarelli, Mário Bortolotto e Chacal transformaram a mesa em um encontro de amigos, discutindo a literatura que habita o “avesso da cidade”. Encerrando o segundo dia da FLIM, a banda paulistana Filarmônica de Paságarda se apresentou para um público heterogêneo.

No domingo, enquanto o final do evento parecia próximo com a fala do crítico literário Murilo Marcondes de Moura na sexta Mesa Literária, dizendo que a geografia dá o conceito de mundo para a literatura. O poeta português José Luiz Peixoto trouxe ao público da FLIM uma nova visão sobre a vida e a nova produção literária em Portugal. “Mas o tempo, ele outra vez, muda o conceito das palavras”, disse o José Luiz Peixoto. Em um espaço ao lado, o Barbatuques começava a usar o corpo da forma subjetiva e inusitada, animando adultos e crianças.  

“Esse é um pequeno momento de uma corrente de coisas que vem acontecendo há muito tempo, foram meses de trabalho, mas tenho a impressão de que todas as palavras duram mais tempo aqui na FLIM, é uma grande caixa de ressonância”, disse o curador do evento, Alberto Martins.

A terceira edição da Festa Literomusical do Parque Vicentina Aranha é uma realização da AJFAC, com apoio do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, Governo do Estado de São Paulo e Prefeitura de São José dos Campos; em parceria com a Fundação Cultural Cassiano Ricardo, SESC, SESI, SENAC e Oficina Cultural Altino Bondesan, e patrocinadores.