Funcionários da funerária da Urbam se revelam artistas
31/05/2017
Edmilson dos Santos Nascimento com telas
Para Edmilson dos Santos Nascimento, a terapia é a pintura em tela: “Me baseio em fotos e gravuras e também crio alguns desenhos” Foto: Divulgação

Urbam

Assim como no filme A Partida, de Yojiro Takita, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009, fazendo uma reflexão sobre o trabalho de preparação dos corpos para os velórios, na funerária da Urbam, em São José dos Campos, também tem profissionais que lidam de forma diferenciada com a morte.

De acordo com a sinopse do filme, “não se trata apenas de adequar corpos para a vigília do velório, mas resignificar um corpo sem vida para os entes queridos que ficaram. Assim, o trabalho funerário de Daigo e Ikuei Sasaki, seu patrão, busca dar sentido vital à partida”. O personagem do filme é um músico que enfrenta preconceito da família e dos amigos na nova atividade. Mas a faz com tanta profundidade que dá um novo sentido à função. 

Isaías dos Santos Hilário é músico nas horas vagas. É professor de viola, violino e violoncelo. Na hora do almoço, costuma dar uma palhinha treinando algum novo acorde. Sua função? Ele prepara os corpos para o velório e realiza a tanatopraxia – uma técnica de preparação de corpos, que aumenta o tempo de conservação e imprime uma aparência natural à pessoa falecida. Desta forma, a técnica permite prolongar o tempo do velório, dando oportunidade para que familiares distantes participem dos atos funerais ou mesmo para que o corpo possa ser transportado a grandes distâncias para o sepultamento.

“É difícil lidar com os vários tipos de mortes. Mas tenho a música como uma terapia”, explicou Isaías.

Benedito Odivaldo dos Santos, o Dito, foi pioneiro na técnica da tanatopraxia na Urbam. Para relaxar, toca violão com a família e mora em uma chácara. “Conviver com a natureza, com os animais soltos e com a música me ajuda a absorver a lágrima diária. Lidar com a dor do próximo não é fácil, mas sabemos cumprir nosso papel com profissionalismo. Quando vou para casa, tento conviver com a minha esposa e filhos, dando valor a cada dia vivido.” 

Benedito vê seu trabalho como a possibilidade de amenizar a tragédia da dor da família. “É preciso humanizar o atendimento. Meu trabalho possibilita um velório sem o lacre da urna. Tenho amor pelo que faço.” Ele realiza também a reparação facial, que confere mais naturalidade à feição da pessoa falecida, para que familiares e amigos possam ter uma boa recordação durante a última homenagem. 

Para Edmilson dos Santos Nascimento, a terapia é a pintura em tela. Ele é motorista da funerária. “Nunca tive aula de pintura. Faço para relaxar. Me baseio em fotos e gravuras e também crio alguns desenhos. Pinto até a exaustão.”