Conheça um pouco da vida e da obra de Cassiano Ricardo
17/10/2017
Poeta Cassiano Ricardo
O joseense Cassiano Ricardo é o único dos modernistas de 22 que passou por todas as fases da poesia enquanto esteve produzindo Foto: Divulgação

Fundação Cultural Cassiano Ricardo

Poeta imortal pela Academia Brasileira de Letras em 1937, Cassiano Ricardo Leite Machado foi também um dos mais destacados jornalistas de sua geração, ainda foi ensaísta e funcionário público com atuação nos governos de São Paulo e Federal. Nasceu em São José dos Campos (SP), em 26 de julho de 1894, e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 14 de janeiro de 1974. 

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Cassiano era filho mais velho de Francisco Leite Machado e Minervina Ricardo Leite. Teve mais dois irmãos, Vanda e Aristides.  Ele foi educado dentro do modelo da aristocracia cafeeira, sua família era rica e produtora de café com fazendas em São José dos Campos e com diversas propriedades na área urbana. Fez os primeiros estudos em sua cidade natal e os completou em Jacareí.

Sob influência de seu tio-avô, Manuelzinho Ricardo, poeta e farmacêutico em São José dos Campos, ‘Cassianinho’, como era tratado por seus parentes, começou cedo na literatura. Seus primeiros versos foram dentro da escola parnasiana. Aos 16 anos publicou seu primeiro livro de poesias, ‘Dentro da Noite’. Iniciou o curso de Direito em São Paulo, concluindo-o no Rio, em 1917. Quando tenta advogar em São José e, sem êxito, acabou seguindo para São Paulo e depois Vacaria (RS).

Ele teve três livros dentro do parnasianismo e chegou a ser elogiado por Olavo Bilac. Essa fase o acompanha até 1920 e sua obra de transição para o modernismo é ‘A Mentirosa de Olhos Verdes’ (1924), mesmo ano que retorna para São Paulo e ingressa no movimento modernista.

Com profundos traços nacionalistas, teve início dentro da escola moderna com a obra ‘Vamos Caçar Papagaios’ (1926); ‘Borrões de Verde e Amarelo’ (1927) e o épico brasileiro que o leva a ter reconhecimento internacional e ingressar no rol dos grandes poetas nacionais, ‘Martim Cererê’ (1928). Neste livro, Cassiano descreve a formação do povo brasileiro e a saga na Constituição do território nacional.

Com sua produção poética em franca ascendência e reconhecida como de alta qualidade, foi um dos líderes do movimento de reforma literária iniciada na Semana de Arte Moderna de 1922, participando ativamente dos grupos ‘Verde Amarelo’ e ‘Anta’, ao lado de Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Raul Bopp, Cândido Mota Filho e outros. 

Eleito em 9 de setembro de 1937 para a Cadeira nº 31 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Paulo Setúbal – que lhe havia indicado para ingressar na entidade –, foi recebido e empossado em 28 de dezembro de 1937 pelo acadêmico Guilherme de Almeida. 

Em 1937 fundou, com Menotti del Picchia e Mota Filho, a ‘Bandeira’, movimento político que se contrapunha ao Integralismo. Dirigiu, àquele tempo, o jornal O Anhanguera, que defendia a ideologia da ‘Bandeira’, condensada na fórmula: ‘Por uma democracia social brasileira, contra as ideologias dissolventes e exóticas’.

Sua atuação no jornalismo, que inclusive antecedeu a de literato, apresentou um profissional inovador e dinâmico. Cassiano Ricardo trabalhou no Correio Paulistano (de 1923 a 1930), como redator. Em 1924, fundou a Novíssima, revista literária dedicada à causa dos modernistas e ao intercâmbio cultural pan-americano. Também foi o criador das revistas Planalto (1930) e Invenção (1962).

Mas seu talento se apresentou quando dirigiu o jornal A Manhã, do Rio de Janeiro (de 1941 a 1945). Mesmo sendo órgão oficial do Estado Novo, o jornal que pretendia divulgar as diretrizes propostas pelo regime junto aos leitores dos mais variados perfis, inovou profundamente. A Constituição de 1937, por exemplo, era exposta de forma didática, aparecendo diariamente nas páginas do matutino.

A equipe de jornalistas do jornal foi uma das mais qualificadas da história do jornalismo brasileiro. Nela se encontravam intelectuais de grande projeção e das mais variadas vertentes ideológicas como Múcio Leão, Afonso Arinos de Melo Franco, Cecília Meireles, José Lins do Rego, Ribeiro Couto, Roquete Pinto, Leopoldo Aires, Alceu Amoroso Lima, Oliveira Viana, Djacir Menezes, Umberto Peregrino, Vinicius de Moraes, Eurialo Canabrava e Gilberto Freyre entre diversos outros. 

Membro da Academia Paulista de Letras, Cassiano sacode o universo da poesia nacional com o livro ‘Um Dia Depois do Outro’ (1947), depois de longa ausência sem publicar suas poesias. Fundou e foi eleito, em 1950, presidente do Clube da Poesia em São Paulo, foi várias vezes reeleito, tendo instituído, em sua gestão, um curso de poética e iniciado a publicação da coleção ‘Novíssimos’, destinada a publicar e apresentar valores representativos daquela fase da poesia brasileira. Entre 1953 e 1954 foi chefe do Escritório Comercial do Brasil em Paris, para divulgar o café brasileiro. 

Participou ativamente dos movimentos do Concretismo e da poesia Práxis, movimentos da poesia de vanguarda nas décadas de 50 e 60. A sua obra ‘Jeremias Sem-Chorar’, de 1964, é bem representativa desta posição de um poeta experimental que veio de bem longe em sua vivência estética e, nesse livro, está em pleno domínio das técnicas gráfico-visuais vanguardistas. Seus estudos continuam no próximo livro, ‘Os Sobreviventes’.

Cassiano Ricardo é o único dos modernistas de 22 que passou por todas as fases da poesia enquanto esteve produzindo. Sua obra poética está entre as mais sérias e importantes da literatura brasileira contemporânea. No entanto, também conseguiu destaque como historiador e ensaísta social. Ele publicou em 1940 um livro de grande repercussão, ‘Marcha para Oeste’, em que estuda o movimento das entradas e bandeiras. 

Cassiano Ricardo pertenceu ao Conselho Federal de Cultura, criado em 1966, foi inspirado no Conselho Federal de Educação e diretamente ligado ao Ministério da Educação e Cultura, no qual conviveu com uma nova geração de intelectuais como Ariano Suassuna, Afonso Arinos, Ariano Suassuna, João Guimarães Rosa, José Cândido de Andrade Muricy, Josué Montello, Otávio de Faria, Pedro Calmon, Rachel de Queiroz, Raymundo de Castro Maia e Roberto Burle Marx.

Seu último livro ‘Dexistência’ ficou inacabado, mas o acompanhou até suas últimas horas de vida num leito hospitalar no Rio de Janeiro. Por vários anos o destino dos originais foi uma incógnita, até ser localizado numa doação ao acervo da Fundação Cultural Cassiano Ricardo e publicado em 2011. 

(Fonte de Pesquisa do Texto ‘Depoimento de Cassiano Ricardo. D.O. Leitura nº 149, de 13 de outubro de ‘994 – São Paulo, páginas 13 e 14 – Matéria: Modernismo – 1922: depoimentos inéditos – Autoria de Luiz Toledo Machado).